O sol ainda nem nasceu na aldeia Masepotiti, localizada na Terra Indígena Panará e o cacique Perankô Panará e mais 5 índios de sua tribo já atravessaram de barco o rio para chegar ao seu destino. São 260 km, sendo uma hora de barco, tudo isto, para começarem o seu primeiro dia de aula na Faculdade de Ciências Sociais de Guarantã do Norte. Um sonho que finalmente pode ser realizado. Além deles, mais dez índios da etnia Terena ingressaram no ensino superior, através do Projeto Educação Superior para Todos, desenvolvido pela Faculdade de Ciências Sociais de Guarantã do Norte em parceria com a Secretaria de Educação de Guarantã do Norte. Através deste projeto, foram concedidas dezesseis bolsas integrais aos alunos indígenas, com o intuito de incentivar o ingresso e permanência dos povos indígenas no Ensino Superior.
Para Perankô, que já possui uma graduação em Ciências Sociais pela Unemat – Barra do Bugres – MT, o Ensino Superior traz muitas possibilidades: “É preciso, para compreender o nosso direito, fortalecer meu povo, para ajudar na territorialidade, traz mais valor. Vai contribuir para pesquisa, para o nosso conhecimento, poder pesquisar o povo, ajudar as comunidades, conhecer as regras indígenas e do branco”. O cacique, que optou desta vez pelo curso de Administração, é o diretor da escola de sua Aldeia e, segundo ele, o Ensino Superior agrega conhecimentos para que possam ser repassados aos alunos da etnia Panará. “Na escola indígena, preparamos nossa realidade específica, mais valores, continuamos a nossa língua materna nas comunidades da tribo, vários tipos de conhecimento, isso, nós ensinamos através do Ensino Superior”.
No primeiro dia de aula, Perankô relata que pode conhecer os colegas de sala e ficou muito contente com a recepção. Um dos projetos para consolidar esta troca de experiência foi através da Mostra Científica, evento da Faculdade de Ciências Sociais de Guarantã do Norte realizado no final do semestre 2016/01, em que os índios tanto Panará quanto Terena apresentaram um pouco sobre sua cultura, qual a sua realidade, suas moradias e Rituais de danças.
O cacique agradece ao apoio da Faculdade de Ciências Sociais de Guarantã do Norte e Secretaria de Educação por incentivarem o ingresso dos povos indígenas no Ensino Superior: “Queria agradecer, parabenizar os colegas, coordenador, diretor, a equipe que está envolvida, agradecer a Faculdade e equipe da Faculdade Uniflor”.
Para Telma Reginaldo Gomes, da etnia Terena, ingressar no Ensino Superior é a realização de um sonho para os índios de sua tribo, configurando-se em uma melhoria para a sua comunidade. Telma relata que os índios Terena encontraram, no começo, muita dificuldade para falar com pessoas brancas: “Antes, quando comecei, não falava com quase ninguém, não tinha contato com as pessoas, mas hoje, já no terceiro semestre, a gente tem mais facilidade de perguntar, de estar integrando com as outras pessoas, outras colegas de sala”. Segundo Telma, as expectativas foram alcançadas: “A expectativa é muito grande, principalmente no meio de nós, indígenas, que nunca tivemos acesso à Faculdade, pois a gente encontra muita dificuldade, o acesso de vir da aldeia e também o preconceito, de um jeito ou de outro, a gente sempre encontra o preconceito em meio ao povo não índio”.
Sobre o que o aprendizado no Ensino Superior irá proporcionar a sua tribo, Telma responde que será de grande proveito: “Vai ser de um proveito muito grande para a tribo Terena, pois esta trabalha com várias etnias, não somente a Terena, mas trabalha com os alunos que vem de outras etnias, Panará, Kaiapó, Bororo e Guarani e, no caso, a aldeia que a gente mora, só Terena que dá aula, e vai ser de bastante proveito pra gente, tanto pros alunos, quanto pra gente que tá aqui, em meio ao povo não índio para estar aprendendo mais, para passar pra eles, pra que quando eles vierem, não encontrarem a mesma dificuldade que a gente tem encontrado na sala de aula, de comunicação, de se interagir com os outros colegas”.
Projeto “Educação Superior para todos”
Trata-se de um sonho antigo do diretor da Instituição de ensino, Cássio Brizzi Trizzi, poder oportunizar educação superior de qualidade para todos, buscando novos cursos para contribuir com o crescimento da região norte de Mato Grosso e cidades circunvizinhas. Para preparar os futuros profissionais, a Faculdade de Ciências Sociais de Guarantã do Norte busca oferecer condições de ingresso de permanência nos cursos e preocupa-se em promover o bem estar da comunidade acadêmica através do FIES, FAAI, Bolsas monitoria e bolsas para alunos indígenas.
Segundo o diretor Cássio, o Projeto “Educação Superior para todos” visa contribuir de forma positiva para a formação superior de povos indígenas. A iniciativa de concessão de bolsa partiu da preocupação da direção financeira da Faculdade de Ciências Sociais de Guarantã do Norte com relação ao baixo número de acadêmicos indígenas matriculados na Instituição. Tendo isto em vista, foi realizada uma reunião com Consul (Conselho Superior), onde foi aprovado o projeto “Educação Superior Para Todos”, concedendo 16 bolsas para etnias Panará e Terena. Os alunos indígenas serão acompanhados através do projeto pelo PADI – Programa de Atendimento ao Discente.
A Faculdade de Ciências Sociais de Guarantã do Norte prima por ser uma instituição consciente de sua responsabilidade social, apta a intervir no processo de desenvolvimento socioeconômico da comunidade em que atua, com uma visão integradora de sociedade e do mundo.
Ascom/FCSGN